quinta-feira, 20 de outubro de 2011

Perguntas e Respostas

Delírios, vozes e visões de seres imaginários. Esse é o quadro de uma pessoa que sofre de esquizofrenia. É comum também que ela passe por períodos de apatia e desordem de pensamento, com alterações de juízo, falsas ideias de perseguição e dificuldade em se relacionar. Descrito pela primeira vez no fim do século XIX, o transtorno ganhou esse nome em 1908, autoria do psiquiatra suíço Eugen Bleuler (1857-1939). A palavra é resultado da junção dos termos gregosskizo (divisão) e phrenos (espírito), devido aos sintomas que provoca. O mal atinge atualmente cerca de 1% da população mundial e conta com 56.000 novos casos a cada ano no Brasil. Compreenda a doença e as formas de tratamento, segundo orientação de especialistas, ouvidos pela repórter Cecília Araújo.


1. Como é feito o diagnóstico da esquizofrenia?
De acordo com o psiquiatra Jaime Hallak – professor do Departamento de Neurociências e Ciências do Comportamento da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (USP) e Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP) –, o diagnóstico é estritamente clínico. "Não há exames que a confirmem, mas isso não significa que eles sejam dispensáveis. Por meio deles, é possível descartar outros quadros, o que reforça o diagnóstico da esquizofrenia", diz Hallak.

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2. Quais são suas principais características?
A esquizofrenia pode se apresentar de várias maneiras. Alguns quadros comuns são o afastamento da realidade por meio de alucinações e/ou delírios, o comportamento volúvel e estranho do paciente, o distanciamento do contato social e a maior dificuldade de estabelecer laços afetivos estáveis. "Trata-se de um transtorno crônico, que pode apresentar crises diante de conflitos ou situações em que faltam ao paciente recursos para simbolizar e suportar o sofrimento, como normalmente fazem as outras pessoas", explica a psicóloga e psicanalista Adriane Barroso.

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3. O que ocorre de diferente no cérebro de uma pessoa esquizofrênica?
No centro do problema está a dopamina, neurotransmissor associado às sensações de prazer e de recompensa e que é encontrado em uma das regiões cerebrais mais profundas: o mesencéfalo. Nas pessoas saudáveis, a dopamina é liberada em quantidades equivalentes para os lobos frontal e temporal – sendo que o primeiro é responsável pela elaboração do pensamento, e o segundo, pela percepção e pela memória. O cérebro do paciente com esquizofrenia, contudo, funciona como se houvesse menos dopamina no lobo frontal e mais no lobo temporal. Essa falta provoca apatia e lentidão de pensamento. Já o excesso de dopamina na região temporal provoca delírios e alucinações. Essas duas falhas contribuem para o aparecimento dos sintomas da doença.

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4. Há uma predisposição genética para a doença?
A esquizofrenia, por definição, é um transtorno neurodesenvolvimental, o que significa que ele se inicia quando o bebê ainda está sendo formado dentro do útero. Porém, apesar de tão precoce, a doença só é identificada na adolescência ou na fase adulta, pois é preciso que o cérebro amadureça para que os sintomas se manifestem. Em geral, ela aparece nos homens entre os 15 e 20 anos e nas mulheres entre os 20 e 25 anos. O psiquiatra Jaime Hallak explica que, apesar da existência de características hereditárias genéticas que colaboram para a doença, elas não são determinantes. "Se fossem, dois gêmeos idênticos, que necessariamente têm cargas genéticas iguais, teriam 100% de concordância no quadro de transtornos mentais, o que não acontece. Essa concordância é de apenas 50%", diz o médico Para quem não tem parentes esquizofrênicos, o risco de ser portador da doença é de 1%.

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5. Ela tem alguma relação com o uso de drogas?
Sim. Antigamente, acreditava-se que as drogas não tinham influência na manifestação da esquizofrenia, apenas provocavam sintomas parecidos com o da doença. Contudo, estudos genéticos recentes já comprovam que o uso crônico da maconha pode colaborar para o seu desenvolvimento, dependendo do tipo de polimorfismo genético que o usuário possui.

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Perguntas e Respostas

6. Que consequências a esquizofrenia traz para a vida do portador?
A doença é marcada especialmente pela dificuldade que o indivíduo apresenta para criar e manter laços sociais, no relacionamento com as pessoas e com o restante do mundo. "Isso traz, obviamente, uma série de questões e entraves: o esquizofrênico, de maneira geral, apresenta problemas extras para lidar com momentos de conflito, com perdas e com mudanças. Deparar-se com essas situações pode causar o que chamamos de desencadeamento ou crises, em que geralmente se nota uma transformação brusca do sujeito, tanto no comportamento quanto no pensamento", diz a psicanalista Adriane Barroso. Consequentemente, se não tratado devidamente, o portador passa a ter problemas na escola, no trabalho e até dentro da própria casa, podendo tomar a atitude extrema de deixar a família ou ser abandonado por ela.

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7. Ao notar sinais da doença em amigos ou familiares, que medidas devem ser tomadas?
O portador da esquizofrenia deve obter ajuda médica e psicológica o mais rápido possível. Em sua experiência hospitalar, o psiquiatra Jaime Hallak conta que, entre o momento em que a doença aparece até o portador ser levado ao psiquiatra, geralmente há um intervalo grande. "Os familiares costumam reconhecer a doença apenas quando ele tem sua primeira crise. O problema é que não existem sintomas tão específicos da esquizofrenia e, na maior parte das vezes, eles são muito sutis", explica. Por isso, é importante que a família se informe no sentido de apurar sua percepção, pois o ideal é que a doença seja tratada nos primeiros cinco anos.

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8. Em que consiste o tratamento?
A psiquiatria lança mão de medicamentos antipsicóticos para tratar a esquizofrenia. Surgidos nos anos 50, os antipsicóticos evoluíram e estão cada vez mais específicos e seguros no controle dos sintomas da doença. Atualmente, preza-se que a medicação venha sempre acompanhada do atendimento clínico frequente, através do tratamento psicológico. A psicanalista Adriane Barroso explica que, com a psicanálise, "busca-se oferecer ao sujeito certa ‘assessoria’ para que seja possível, com os recursos que ele tem, enfrentar a vida, seus conflitos e suas questões".

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9. Qual é o papel da família durante o tratamento?
A presença e a participação da família no tratamento do esquizofrênico é determinante, já que a doença, seus desencadeamentos e suas questões comumente afetam a dinâmica de toda a família. Segundo a psicanalista Adriane Barroso, geralmente os pacientes que apresentam ou já apresentaram várias crises se mostram ainda mais dependentes desse acompanhamento. "É necessário compreender os limites e as possibilidades desse quadro, de forma que seja possível prestar assistência sem, contudo, invadir a vida e a particularidade do sujeito", diz a psicanalista. Para isso é necessário que os familiares sejam orientados sobre como proceder nessa situação.

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10. Qual a recorrência e a duração dos surtos esquizofrênicos?
Não é possível determinar a frequência das crises, que podem acontecer uma ou diversas vezes na vida do paciente. Porém, em apenas 15% dos casos não acontece um segundo surto. Os outros 85% têm crises recorrentes. Segundo o psiquiatra Jaime Hallak, um surto não tratado pode durar mais de um ano, enquanto aqueles que têm o acompanhamento adequado duram apenas dias. Somente casos em que os pacientes respondem mal aos medicamentos podem durar mais, chegando a até 10 meses.
Quanto mais longos e frequentes forem os surtos, mais prejuízos trazem aos papéis sociais do portador. Também por isso, é importante que o acompanhamento médico e psicológico se inicie o mais rápido possível. "O tratamento é a longo prazo e deve ser mantido mesmo fora dos momentos de crise. Dessa forma, com diagnóstico e tratamento adequados, os desencadeamentos podem, inclusive, ser evitados, garantindo ao sujeito uma vida estável", explica a psicanalista Adriane Barroso.

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11. Quanto tempo costuma durar a internação dos doentes?
Por muito tempo, a internação foi utilizada de forma incorreta e abusiva. Hospitais psiquiátricos apresentavam condições desumanas, funcionando como verdadeiros depósitos de pessoas, que eram vistas como incômodo social ou para a família. Nos últimos anos, diversas leis têm sido criadas e modificadas no sentido de garantir o tratamento do paciente de acordo com suas necessidades clínicas, visando seu retorno ao convívio familiar e social tão logo seja possível. Hoje, há restrições quanto ao tempo de internação e às condições em que ela pode ocorrer. Um procedimento comum é a internação temporária dos esquizofrênicos, mas ocorre apenas quando esses pacientes apresentam riscos para si ou para terceiros. Segundo a psicanalista Adriane Barroso, o recurso não deve ser entendido como um processo prejudicial. "Ao contrário, ele é, muitas vezes, necessário e benéfico, desde que usado com critérios clínicos rigorosos, assim como todo o restante do tratamento."

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12. A medicina está perto de achar a cura?
O psiquiatra Jaime Hallak garante que a medicina está no caminho certo: "Estamos trabalhando intensamente pela cura da doença e nos aproximando de estudos muito relevantes, inclusive liderados por grupos brasileiros. Costumo dizer que a esquizofrenia é uma doença que acontece em todas as raças, religiões e sexos e que não tem cura... ainda! Os resultados das pesquisas são promissores, e os familiares e portadores devem manter a esperança da recuperação total."

quarta-feira, 19 de outubro de 2011

Vídeos sobre Esquizofrenia


A história dramática de Tarso, da telenovela da Globo "Caminho das Índias".


Você conhece alguém com esquizofrênia?

sexta-feira, 7 de outubro de 2011

Reportagem



O drama da esquizofrenia


 

Saiba o que é e como se pode tratar a doença que tanto faz sofrer Tarso e Ademir.



Colocar em pauta temas sociais e polêmicos é marca registrada de Gloria Perez em suas novelas. Ela já abordou dramas como o das crianças desaparecidas em Explode Coração (1995), clonagem e dependência química em O Clone (2001), deficiência visual e cleptomania em América (2005). Agora, com Tarso, personagem de Bruno Gagliasso em Caminho das Índias, a autora trata da esquizofrenia para jogar um pouco de luz sobre o sofrimento de milhares de brasileiros e seus familiares envolvidos com a situação. "As cenas são impactantes, um soco no estômago. O objetivo é acordar as pessoas para essa realidade", enfatiza Bruno, que se esmera em sua interpretação de um atordoado portador da doença.

A esquizofrenia afeta a capacidade mental da pessoa de distinguir se as experiências vividas são ou não reais, explica o psiquiatra Rodrigo Bressan, coordenador do Programa de Esquizofrenia (Proesq) da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp). O médico revela ainda que o indivíduo passa a ter delírios e alucinações. "Esses sintomas fazem com que ele se retraia e o deixa cada vez mais isolado da sociedade. Não há cura, mas o tratamento controla os sintomas e ajuda as pessoas afetadas a terem uma vida parecida com a de quem não sofre da enfermidade. Ou seja: elas podem trabalhar, namorar, ter amigos e se divertir", explica o doutor Bressan.

Junto com Cecília Villares, presidente da Associação Brasileira de Familiares, Amigos e Portadores de Esquizofrenia (ABRE), e Jorge Cândido Assis, vice-presidente da Associação e portador da doença há 24 anos, o psiquiatra escreveu o livro Entre a Razão e a Ilusão - Desmistificando a Loucura, da Editora Segmento Farma.

Há 11 anos, Jorge ministra aulas e palestras e faz campanhas para tentar reduzir o preconceito que existe contra a enfermidade. Ele também ajudou Gloria Perez, a assistente dela, Giovana Manfred, e a atriz Marjorie Estiano a entender melhor a situação. Acompanhe aqui a entrevista exclusiva que Assis concedeu à tititi.

tititi - Afinal, o que é a esquizofrenia?
Jorge Cândido Assis - É uma doença decorrente de mudanças na maneira como o cérebro processa as informações. Normalmente, aparece entre o final da adolescência e o começo da vida adulta (entre 17 e 30 anos). Ela se caracteriza por:
a) dificuldade da pessoa doente de distinguir entre a realidade e as crenças incomuns que passa a ter; b) percepções dos sentidos sem que haja o estímulo externo, por exemplo, ouvir vozes quando ninguém está falando;
c) perda da energia física e problema para realizar tarefas que antes conseguia fazer sem grande esforço.

A quais sinais os familiares devem ficar atentos?
Há um período, que antecede o aparecimento da doença, que é marcado por perda de rendimento escolar ou no trabalho, ideias de perseguição, pensamentos ou interesses incomuns e sem base na realidade. Vale a pena ficar atento.

De que forma se cuida da esquizofrenia?
O tratamento é feito por uma equipe formada por psiquiatra, psicólogo, terapeuta ocupacional, enfermeiro e assistente social. O médico psiquiatra (depois do diagnóstico) indica os remédios e acompanha o paciente, pois só ele conhece bem os efeitos da medicação, que, em geral, é controlada.

Pintura, escultura, música... Na novela, o dr. Castanho (Stenio Garcia) usa tudo isso como terapia, não?
A arte em si não é um tratamento, e sim uma ferramenta para cuidar do doente durante a terapia ocupacional (pela arte ele se expressa, ou seja, dá voz às emoções que não consegue manifestar de outra forma). E o objetivo é estabelecer projetos com começo, meio e fim, e resgatar para a pessoa afetada o significado das atividades cotidianas.

A esquizofrênia não existe só nas novelas, e uma doença  que acomete qualquer pessoa, não dependendo de classe social e pode acontecer com qualquer um. Você tem familiares ou amigos esquizofrênicos?


Reportagem


Eu tenho esquizofrênia

Sofri demais com os sintomas até receber o diagnóstico Hoje levo uma vida normal e me dou bem com todo mundo.




Numa certa noite, eu não conseguia dormir por nada! Eu tinha 20 e poucos anos e morava em Lisboa, Portugal. Havia sofrido um aborto e perdido o emprego. Olhei pela janela e vi num beco uma mulher carregando uma criança. Achei estranho, mas fui me deitar.

Da cama, eu ouvia a criança chorar e a voz macia da mulher repetir: ''A mamãe tá aqui...''. Me arrepiei! No dia seguinte, não reconheci as pessoas da pensão onde eu morava. Saí correndo, achando que queriam me matar! Desesperada, desci do terceiro andar pelo lado de fora do prédio, me apoiando somente nas janelas! Eu ainda não sabia, mas essas eram manifestações da esquizofrenia, uma doença que chega sem avisar.

Pensei que isso tudo era fruto de um feitiço

Antes de ir a Portugal, eu trabalhava num banco, no Brasil. Como fui despedida, resolvi me aventurar. Aos 22 anos, viajei para Lisboa. Logo consegui um emprego como acompanhante de uma senhora de 86 anos. E comecei a namorar um português. Eu estava apaixonada! Isso até engravidar e descobrir que ele era casado... A mulher do cara prometeu fazer um feitiço pra acabar comigo! Então, quando comecei a ter aquelas visões horríveis, achei mesmo que eram fruto de um ''trabalho'' da tal mulher.

Passados uns meses, eu estava numa estação de metrô, em Lisboa, quando me senti desorientada. Vi as pessoas como se fossem zumbis, todas mortas! Parecia que meus pés pisavam em nuvens... ''Eu devo estar no céu! Acho que morri!'', pensei.

No hospital, achei que tinha visto Jesus

Um policial me levou para um hospital. Lá, vi um homem e achei que era Jesus: ''Que bom! Ele vai me salvar!'', imaginei. Claro que não era Jesus! Aí, me deram remédios e fiquei internada. O médico que me atendeu pediu para eu procurar um psiquiatra, mas não dei importância e voltei ao Brasil.

Depois de dois anos, arrumei emprego numa empresa. Até aí, não tomava remédios e ninguém entendia o que se passava comigo. Às vezes, eu entrava num lugar e achava que olhavam pra mim de um jeito diferente... Meus parentes diziam que iriam me levar a uma igreja e que eu ficaria boa.

Em casa, eu pensava que a televisão estava me filmando e ouvia vozes: ''Conceição, desenterra o dinheiro da botija e me dá ele todo! Às 9h, eu venho buscar!''. Me dava um medo danado! Em alguns momentos achei que via espíritos, que os vultos eram reais.

Minha vida só mudou quando o médico me encaminhou ao Centro de Atenção Integrada à Saúde Mental da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo (CAISM). Hospital psiquiátrico tem fama de ser lugar ruim, mas esse era bom! Fiquei três meses internada lá.

Quando saí, fui morar com uma amiga que tem uma pensão. Não parei de tomar os remédios, vejo meu médico toda semana e me dou bem com as pessoas e com minha família. Chega de ouvir desaforos e ser tratada como louca! Vivo aliviada por saber que tenho uma doença e posso controlá-la.

Os sintomas da esquizofrenia aparecem aos poucos. O primeiro deles é um estranhamento em relação ao mundo. ''O diagnóstico é feito depois de um mês de delírios e alucinações, principalmente auditivas (as ''vozes''), além de comportamento desorganizado e mudanças no convívio com outras pessoas'', explica Elie Leal de Barros Calfat, psiquiatra do CAISM.

A doença afeta 1% da população mundial, se manifesta entre os 10 e os 30 anos de idade e é provavelmente genética. O uso de drogas ou um trauma podem acelerar o surgimento dos sintomas. ''O indivíduo pode achar que a comida dele está envenenada e jogar tudo fora ou pensar que está sendo espionado pelo governo e desmontar os telefones da casa'', diz o dr. Calfat.

O melhor a ser feito é levar essa pessoa para uma avaliação clínica, porque ''nem todo mundo que ouve vozes é esquizofrênico''. Outras doenças têm esse sintoma, como o transtorno afetivo bipolar. O tratamento com terapia e medicação pode fazer o doente voltar a conviver socialmente com sucesso.



O que você achou dessa reportagem?

quinta-feira, 6 de outubro de 2011

Livros

Veja a lista de Livros abaixo para leitura:

Uma mente brilhante” é o relato da conturbada trajetória de John Forbes Nash Jr., Prêmio Nobel de Economia de 1994, que no auge do seu sucesso, aos 31 anos, vê sua genialidade corroída por surtos persecutórios, provenientes de uma esquizofrenia paranóica. Neste livro, Sylvia Nasar reconstitui a luta deste gênio dos números para recobrar sua sanidade.”


Este livro constitui-se em fonte indispensável de informações para psiquiatras, psicólogos, enfermeiros, administradores e legisladores que atuam na área de saúde mental, especialmente para aqueles que trabalham com a esquizofrenia. Apresentando revisões sistemáticas comentadas, consegue avaliar "evidências e experiências" para proporcionar uma narrativa crítica e objetiva de questões importantes.


   O livro conta a história da doença    que acometeu meu filho André, que perdi aos 30 anos de idade, em maio de 2007: a esquizofrenia. A partir das primeiras suspeitas na pré adolescência, comecei a estudar em livros médicos procurando conhecimento para poder ajudá-lo. Procurei livros escritos por um pai ou mãe, e não encontrei nenhum em português, por esta razão decidi escrever.

O que achastes dos livros indicados para leitura?

Depoimento de um Pai


Em livro, dentista relata luta contra esquizofrenia do filho que morreu há três anos.

 Há três anos, o dentista Mario Sergio Limberte perdeu seu caçula, vítima dos efeitos dos antipsicóticos. Por dez anos, o pai mergulhou na prática e na teoria da doença. Devorou a literatura médica, ouviu as vozes todas da esquizofrenia. E preservou o elo com o filho. No livro 'Cadê Minha Sorte?' (Scortecci), ele mostra sua luta contra o transtorno do filho, e passa know-how. Hoje, briga para mudar o nome da doença-estigma.
Letícia Moreira/Folhapress
O dentista Mario Sergio Limberte escreveu um livro sobre sua luta contra a esquizofrenia do filho que morreu há três anos
MINHA HISTÓRIA
"Nenhum pai imagina ter um filho com doença mental. Durante toda a vida do meu filho após o diagnóstico, estudei a esquizofrenia. Importava livros. Os livros médicos brasileiros são ótimos, mas escritos por pais, não achei.
André foi um menino sadio, alegre. O caçula. Hoje, teria 33. O outro tem 35.
Teve uma infância feliz, posso dizer. Boa escola, viagens para a Disney...
Lá pelos 14 André ficou um pouquinho estranho. Não beijava mais a mãe. Quantos filhos não beijam a mãe, ainda mais na adolescência? Isso é o pior dessa doença. Vem vindo. Chega insidiosa, traiçoeira, confundindo.
MENINO BONITO
Mas André foi passando de ano. Quem sofre dessa doença não consegue concluir curso universitário. Há perdas cognitivas. Mas ele concluiu o de odontologia. E se recusou a ir na formatura.
Começou então o isolamento social. Era muito bonito, assediado pelas meninas. Passou a se fechar no quarto, não atendia mais telefone.
Pensamos que era droga. Aos 16, contou à mãe que ouviu vozes. Não demos importância. Hoje, sei que ouvia.
Depois que o perdi, abrindo as gavetas dele, descobri poemas e uma história gozada, que deu nome ao meu livro: "Cadê minha sorte?"
O André sempre trabalhou no teatro das escolas. Decidiu que queria ser o melhor ator em Hollywood.
Era já um delírio de grandiosidade, mas eu não percebia assim. Incentivei ele.
E ele foi, então, estudar teatro e cinema em Los Angeles. Mas quando viajou, seu isolamento já estava patente.
André ficou dos 19 aos 21 nos EUA. Fui visitá-lo.
À noite, vi que ele acordava muitas vezes, ia ao banheiro e ligava o chuveiro. Há um sintoma: o doente bebe muita água, compulsivamente. Eu me preocupei em não invadir. Não perguntei.
Voltei preocupado. Comprei um livro sobre esquizofrenia. Fiquei estarrecido.
Não contei para minha mulher. Entrei em depressão.
Eu tinha vontade de morrer por covardia, para sair da briga. O antidepressivo me ajudou. Pensei: se morro, quem cuida do meu filho?
Um dia, disse que não o sustentaria mais do que quatro meses lá. Ele veio.
Estava magro para burro.
No dia seguinte da sua chegada fomos almoçar num restaurante. Pegou um palito da mesa e disse: "Pai, quando eu sair daqui, os garçons vão disputar esse palito, só porque toquei nele".
Delírio de grandeza. Também tinha delírios de perseguição, alucinações. Dava risadinhas, eram vozes debochando.
Uma noite, foi ao nosso quarto, começou a falar que tinha vindo salvar o mundo. Minha mulher, ingenuamente, interferia. Ele dizia: "Cala essa boca". Eu anotava tudo para levar ao médico. Excitado, André andava do quarto para a sala, falava da guerra do Iraque... Até que, exausto, dormiu numa poltrona. Deitamos no chão, ao lado dele.
Voltou dia 9 de novembro, no dia 14 já foi internado compulsoriamente.
Foi um dos piores dias da minha vida. Fiz uma armadilha para meu filho. Contratei ambulância, escolhi clínica.
Não é fácil internar um filho. O médico disse que ele corria risco de vida. Só então contei para minha mulher.
Ficamos escondidos. Vimos a ambulância chegar, ele sair com os enfermeiros. Aplicaram injeção, mas nem precisaria. Foi pacífico. Achou que era um sequestro.
Fui com meu carro atrás da ambulância. A médica da clínica fez perguntas para a gente.
Falou: "Seu filho tem esquizofrenia, uma doença incurável". Ele tinha 22 anos. Sim, suspeitávamos, mas tudo tem um jeito para se falar.
Aquilo mudou nossa vida. Ficou tudo muito mais triste, mas eu sabia agora com o que estava lidando. Precisa ter esclarecimento para não achar que o seu filho é um vagabundo. Passei dia e noite lendo. Conheci bem as várias hipóteses, os remédios.
Ficamos quatro dias sem poder vê-lo. Ele mandou um bilhetinho pedindo desculpa pela noite do surto. Pensou que foi internado como uma punição, como um castigo.
Depois, quando permitiram visita, meu filho, grogue, disse: "Pai, você não podia fazer isso comigo. Acabou com minha vida".
Passaram-se dez anos assim: toma medicamento, melhora, piora.
André nunca me perdoou pela internação. Duas vezes me disse que estraguei a vida dele.
Um pai que tem um filho com essa doença não pode ter medo de ser odiado. Mesmo assim, tenho culpa.
EFEITOS COLATERAIS
A medicação antipsicótica funciona só nos sintomas positivos (delírios e alucinações). Na parte cognitiva, não. Naquilo que incapacita, nada. Estamos longe do remédio ideal.
Os efeitos colaterais são horríveis. O doente passa a lutar contra a doença e contra os efeitos da medicação, que vão de constipação intestinal a impotência sexual.
Os médicos não dão importância a essas comorbidades. Como a doença é a pior coisa que existe, psiquiatras focam nela, não no doente.
O psiquiatra não toma a pressão, não pede exames, quando é sabido que cardiopatias são a segunda causa de morte dos doentes. A primeira é suicídio.
Fala-se muito nos livros médicos que os remédios dão condições de se ter uma vida razoavelmente boa.
Mentira. A maioria dos doentes não se casa, é solitária. André tinha namoradas no começo.
Depois, não saía mais com meninas. Perguntei para o médico sobre a parte sexual, pedindo para ele ser ético, dizer só o que eu precisasse saber para ajudar.
E o médico me disse que meu filho tinha retardamento do orgasmo, mas isso não era nada.
Se o André falasse sobre isso mais uma vez, poderia receitar Viagra. Falou como se fosse uma gripe.
Outro efeito é a obesidade.
O NOME DA DOENÇA
Não contei ao André o nome da doença. Segundo alguns autores, se o doente sabe, fica melhor para enfrentar. Outros dizem que essa informação leva mais rápido ao suicídio, se o doente é culto e tem noção das limitações.
O médico explicou o distúrbio químico no cérebro dele, o excesso de dopamina. O problema é o nome da doença. Se falo que meu filho tem esquizofrenia, a tradução é "louco". Não é só semântica. Precisa mudar.
Ninguém na família ficou sabendo da doença do André, muitos amigos também ficaram sabendo só no velório. Por que escondi?
Porque se contasse todo mundo ia se afastar, o isolamento seria ainda pior.
Na fase em que ainda não tinha palpitações por causa do remédio, o André até foi em baladas, se divertiu.
Aos poucos, veio o sintoma da pobreza de palavras. Falava pouco. Depois, catatonia. Ficava na poltrona, em posição fetal, imóvel.
Ele tinha alucinações visuais. Cismava com cores. Uma vez disse que estava vendo tudo cor-de-rosa. Sinal de que a dose não era mais suficiente.
Aí aumenta a dose, e o que acontece? Depressão e culpa. "Pai, eu não venço na vida, faço os testes e não me aceitam", ele me dizia. Eu falava que vida de artista era difícil mesmo, precisava paciência.
Meu filho passou várias fases de depressão e melhora.
DIA SOLITÁRIO
O dia da sua morte foi um domingo como outros. Dias antes, se queixou de taquicardia, mas tinha muitas palpitações sempre.
Almocei com ele no clube, deixei em casa e fui visitar minha mãe. Domingo é um dia solitário para todo mundo. Para ele, mais. Depois, sempre pegava ele para tomar cafezinho no shopping.
Eu que o encontrei. Achei que dormia. Sacudi, gritei. Estranho ter nas mãos seu filho morto. Que sensação.
Muitos doentes morrem do coração. Muitos se suicidam. Vivem menos que a maioria.
Não escrevi o livro por revolta. Não estou ligado a nada. Quis contar a história, talvez ajude outros pais."

Indico essa leitura para quem  tem  um familiar esquizofrênico e sabe conviver com ele no dia  a dia.

Evolução

A evolução ou prognóstico da esquizofrenia é tão variável quanto à própria doença. Existem pacientes que têm apenas uma crise, que retomam suas atividades e que permanecem com sintomas que pouco interferem com sua vida. Há outros que perdem mais com a crise e têm maior dificuldade para retomar seus compromissos e são mais dependentes de supervisão e apoio. E existem aqueles com um curso mais grave, muitas recaídas e menor autonomia.
A ciência ainda não descobriu todas as explicações para essas diferenças. Sabe-se que um maior número de recaídas compromete muito a evolução e as possibilidades de recuperação a longo prazo. Para cada crise, estima-se que o paciente leve de 6 a 12 meses para recuperar o nível anterior de funcionamento. Portanto, a prevenção de recaídas, através de um tratamento regular e abrangente que contemple as esferas bio-psico-sociais do indivíduo e de sua família, é fundamental.  
Atualmente as possibilidades de recuperação são enormes. Os recursos que dispomos para tratamento são muito superiores aos existentes há vinte ou trinta anos atrás. A esquizofrenia precisa perder o estigma de doença degenerativa, em que a pessoa vai perdendo aos poucos sua vitalidade. A ciência já mostrou que não ocorre degeneração. Pelo contrário, é possível recuperar muitas funções adoecidas pela doença. Ainda que não exista uma cura, é possível tratá-la a ponto de estabilizar e preparar a pessoa para uma vida ativa e plena. Tudo depende da esperança e da energia que conseguimos reunir em torno do paciente para ajudá-lo a encarar este desafio.

Você sabe quando uma pessoa esta entrando em crise?

Relacionamentos






Um aspecto importante para a autonomia dos portadores de esquizofrenia é a capacidade de se relacionarem com outras pessoas, ampliando assim seu ciclo social.  A timidez, a introspecção, o isolamento e a inibição social que alguns apresentam dificultam a formação de novas amizades e de relacionamentos afetivos, que poderiam ajudar no resgate da motivação e do prazer para novas atividades. É comum a constatação por familiares e portadores de que a falta de companhia é muitas vezes o motivo para a ociosidade.

Outro ponto comum entre os familiares é que os modos e a capacidade do paciente avaliar seu comportamento em situações sociais geram, muitas vezes, constrangimento para si próprio. Alguns relutam em freqüentar determinados ambientes e em outros as famílias têm resistência a levá-los, por temer que o comportamento não será adequado.

O aprendizado social, ou seja, o treinamento e a exposição a situações e ambientes sociais devem fazer parte do processo de reabilitação. A privação social, seja qual for a razão alegada, só contribui para que antigos hábitos permaneçam disfuncionais e para que novas habilidades não sejam incorporadas para moldar melhor o comportamento.

O tratamento psicossocial e a psicoterapia podem oferecer ferramentas para ampliar relacionamentos e para aperfeiçoar o comportamento social, ajudando o paciente a ter uma melhor autocrítica e a monitorar (e corrigir) seus próprios hábitos e atitudes. Entretanto, a família não deve se furtar a levar o paciente aos eventos sociais, ajudando-o no treinamento contínuo desse aprendizado e resgatando o prazer da convivência em comunidade.


Você tem contato social com um esquizofrênico?

Lazer


O lazer é tão importante quanto às demais atividades rotineiras do paciente. Alguns incorrem no erro de julgar atividades ocupacionais, que não o trabalho, como lazer. Aula de artes, atividades físicas, oficinas lúdicas, terapias, enfim, a maior parte das atividades propostas aos pacientes tem caráter terapêutico. Embora possam ser prazerosas, não substituem os momentos de lazer. 

Lazer são atividades espontâneas e voltadas ao entretenimento e prazer, que ajudam a descarregar tensões, que trazem relaxamento e bem estar e que, se possível (e é desejável que assim o seja), reúnam pessoas amigas e queridas.

Apesar da reabilitação psicossocial incluir atividades com este propósito, é recomendável que elas também aconteçam em outros ambientes, como o familiar. A família precisa de momentos de congraçamento e prazer, para estreitar seus laços afetivos e aproximar as histórias de vida das pessoas. Manter um momento desses, ao mínimo algumas horas uma vez por semana, para ir ao cinema ou a um restaurante, ou mesmo a um piquenique no parque, pode ajudar a melhorar os relacionamentos.   

Atividades Diarias







Uma das maiores preocupações da família e do paciente com o tratamento é qual será o grau de autonomia que ele conseguirá alcançar com a recuperação de sua doença. Muitos trabalhavam, estudavam e tinham outras atividades regulares antes de adoecerem. A primeira crise representou, para a maioria, uma ruptura neste processo. Os familiares temem que os sintomas mais duradouros da esquizofrenia interfiram com a capacidade de planejamento e realização, dificultando a retomada de uma vida produtiva. Isso inclui, além do trabalho e dos estudos, os relacionamentos afetivos e sociais, a capacidade de manter o tratamento e de equilibrar-se para uma vida saudável, almejando maior independência social, emocional e financeira.   

Abordamos os sintomas mais persistentes da esquizofrenia, como os cognitivos e os negativos, que ocorrem em grau variado de intensidade na maioria dos pacientes. Esses sintomas costumam interferir mais na autonomia do que os sintomas positivos. Os tratamentos precisam ser planejados, levando-se em conta o quadro clínico e as limitações de cada um, com metas de curto, médio e longo prazo, que precisarão ser reavaliadas à medida que o paciente avança em seus objetivos. O grau de autonomia a ser alcançado depende também da estabilidade da doença (prevenção de recaídas) e da qualidade do meio em que o paciente vive (menor sobrecarga e estresse).   

O trabalho deve ter num primeiro momento um propósito ocupacional. O paciente deve ser estimulado dentro de suas potencialidades, com o cuidado de se evitar a superestimulação ou a sobrecarga de responsabilidades e demandas que possam desestruturá-lo. Ele pode ser gradativamente encorajado a assumir novas responsabilidades à medida que se mostrar mais seguro e confortável em sua função. A equipe terapêutica pode ajudar nesta orientação.

Alguns podem necessitar de um trabalho assistido, ou seja, sob supervisão de alguém que possa assumir responsabilidades que o paciente demonstra não suportar. Esta proteção visa evitar que o trabalho se transforme num potencial risco de recaída, por exceder as capacidades de enfrentamento por parte do paciente, gerando mais angústia e estresse.

Não é nenhum demérito se o paciente precisar assumir uma função com grau menor de complexidade do que a que vinha exercendo antes de seu adoecimento. O processo de reabilitação deve focar no melhor desfecho de longo prazo, sem abrir mão da estabilidade da doença, componente fundamental.

Terapia e Psicoeducação


A terapia de família na esquizofrenia é um dos tratamentos complementares de maior eficácia, com repercussão direta no estado clínico do paciente. Existem vários trabalhos científicos que comprovam seus efeitos na adesão ao tratamento médico, na redução de recaídas e de hospitalizações, na melhoria da qualidade de vida e autonomia do paciente. Para os familiares, a terapia pode ajudá-los a reduzir o estresse, a trabalhar melhor seus sentimentos e angústias, superando a sensação de culpa e/ou fracasso, a identificar preconceitos e atitudes errôneas e os auxilia na busca de soluções para os problemas cotidianos.

O modelo de terapia que mais tem se mostrado eficaz na esquizofrenia é o da psicoeducação de família, que acrescenta à terapia informações sobre a doença. Oferecer conhecimento teórico é imprescindível para ajudar o familiar a compreender melhor seu paciente, reavaliando julgamentos e atitudes. Esta importante etapa educativa o prepara para a etapa seguinte, a terapia propriamente.

A terapia pode ser individual (com um ou mais membros de uma mesma família) ou em grupo (várias famílias). Ela analisa as situações práticas do dia-a-dia e como cada um lida com os conflitos e soluciona os problemas, propondo uma reflexão. Ela pode recorrer a qualquer momento à etapa educativa para corrigir equívocos que porventura persistirem. Essa reflexão é essencial para que o familiar esteja mais receptivo a novas maneiras de lidar com o estresse e adquira maior habilidade no manejo e na solução das situações, reduzindo assim a sobrecarga e melhorando a qualidade do relacionamento familiar. 

Papel da Família

Os portadores de esquizofrenia, pelas características da própria doença, passam a maior parte de seu tempo com suas famílias, principalmente seus pais e irmãos. As pessoas diretamente ligadas a eles também sofrem com os desgastes provocados pelo transtorno.

A esquizofrenia pode interferir nas relações familiares, provocar sentimentos negativos, como raiva, medo e angústia, pela sensação de impotência que os sintomas trazem. Como reagir frente a um delírio ou uma alucinação, que comportamento deve se ter diante de alguém desmotivado, que se isola ou que reluta em fazer alguma atividade? Como aceitar os percalços que a doença traz sem descontar no paciente, sua principal vítima, as nossas próprias frustrações?

O impacto emocional que o adoecimento traz aos familiares é muitas vezes tão intenso quanto àquele que atinge o paciente. Algumas reações comuns entre os familiares, particularmente no início da doença, quando tomam conhecimento do diagnóstico, são:

  • Negação ou subestimação: sentimento de incredulidade ou de irrealidade, como se aquilo não estivesse acontecendo ou como se fosse um pesadelo do qual se poderia acordar a qualquer momento. O familiar pode criar fantasias acerca da doença, duvidar ou questionar seus sintomas, acreditar numa cura miraculosa ou achar que o problema é menor e não deve gerar preocupações.
  • Sentimento de culpa: procurar responsabilizar alguém ou a si próprio, buscar um culpado para a doença.
  • Sentimento de revolta: agir com raiva diante do paciente ou de outro familiar, por não aceitar a doença.
  • Superproteção: acreditar que a doença vai deixar o paciente incapacitado e dependente, desenvolvendo formas de controle e cerceamento que irão tolir a liberdade e limitar a autonomia da pessoa.
O familiar precisa de tempo e de informação para mudar seus sentimentos, refletir sobre suas convicções e perder os preconceitos. Aprender a lidar com os sintomas vem a partir da vivência cotidiana, que precisa de reflexão e reavaliação constantes. Nossas atitudes podem ser determinantes para o futuro da pessoa que sofre de esquizofrenia. Atitudes positivas contribuirão para uma melhor recuperação, um futuro mais promissor, com menores índices de recaída, maiores possibilidades para se trabalhar a autonomia e melhorar a qualidade de vida e dos relacionamentos. Atitudes negativas desgastam as relações, impossibilitam a recuperação plena e estão associadas a um maior número de recaídas e a uma evolução mais grave da esquizofrenia.

Emoção expressada (E.E.) é o termo dado por pesquisadores ao conjunto de atitudes, sentimentos e reações de familiares que refletem emoções desajustadas relacionadas à doença e ao familiar adoecido. Quando se diz que uma família tem altos níveis de E.E., significa que os relacionamentos estão em conflito, aumentando a sobrecarga e o estresse. A capacidade de solucionar os principais problemas trazidos pela doença e sua convivência fica muito prejudicada. Por esse motivo, altos índices de E.E. são um dos fatores que mais se relacionam às recaídas e a um pior prognóstico.

Os familiares e pessoas próximas precisam dedicar um tempo ao conhecimento dos aspectos da doença, como forma de compreender melhor seu familiar e amigo, refletir sobre suas atitudes, mudar padrões errados de comportamento e reduzir o grau de estresse, buscando solucionar da melhor forma os conflitos do dia-a-dia. Essa nova maneira de encarar a esquizofrenia vai se reverter em benefícios para si, aliviando o sofrimento e o impacto causados pelo adoecimento e, sobretudo, melhorando a convivência e o ambiente familiar.   

A família é muito importante no tratamento da doença?

Tratamento da Esquizofrenia









Medicações - Os antipsicóticos são os medicamentos indicados no tratamento da esquizofrenia e representaram um grande avanço no tratamento da doença, com redução das internações psiquiátricas e melhor integração dos pacientes à sociedade


Reabilitação - Os medicamentos tratam os principais sintomas da esquizofrenia, mas alguns sintomas relacionados mais diretamente ao funcionamento social da pessoa, como os sintomas negativos e cognitivos, requerem tratamentos complementares como a reabilitação psicossocial, cognitiva e a psicoterapia.


Internação - A necessidade de internação hospitalar reduziu drasticamente após o advento dos antipsicóticos, mas em situações de crise, quando o paciente se coloca em situações de risco, ela ainda é um recurso útil.


Eletrochoque - Um tratamento cercado de estigma e preconceito, porém eficaz e com indicações precisas, como a catatonia, o eletrochoque (ECT) é realizado hoje em dia em circunstâncias totalmente diferentes do passado, com anestesia, monitoramento do paciente e com baixo risco para a saúde.


Os tratamentos da esquizofrenia são importantes para a melhora do indivíduo no meio social?